Era o ano de 1985, eu tinha apenas 15 anos e já entendia muito da vida,
mas só de ouvir a conversa dos meus pais. Diziam que a vida pregava cada peça
neles, mas que um dia a vida iria nos ajudar a ter um futuro melhor. Não passávamos necessidade, mas também não
tínhamos muito luxo. Era uma vida simples, porém cheia de amor.
Nossa família era composta de 4 pessoas, eu, meu pai, minha mãe e uma
irmã mais nova que eu, tinha 6 anos. Éramos felizes, saiamos aos domingos para
tomar sorvete e olhar a paisagem do parque da cidade. Estudávamos em um colégio
bom, público, porém bom. Meu pai trabalhava de porteiro noturno em um Hotel muito
luxuoso da nossa cidade, e minha mãe cuidava da casa e de nós, muito bem por
sinal. Íamos caminhando, até que um dia aconteceu algo, que mudou toda a nossa
vida.
Aconteceu um assalto no hotel em que meu pai trabalhava, e ele foi
atingido por uma bala. Foi socorrido,
mas não resistiu aos ferimentos. Aí sim nossa vida tinha se acabado. O que
iríamos fazer? Minha mãe, com duas crianças pequenas, sem trabalho, sem
dinheiro, nossa família morava longe. Eu, muito novo, já entendia a gravidade
da situação em que nós estávamos. Minha mãe sempre muito guerreira, fazia de
tudo para que nós não soubéssemos de nada. Mas era inevitável, abríamos o
armário e não tinha nada pra comer, as contas vinham chegando de monte, e eu
via minha mãe preocupada, vi que eu tinha que fazer alguma coisa.
Resolvi então procurar um trabalho, mas quem daria um emprego a um adolescente
de 15 anos? Pois é, eu não sabia disso. Bati em várias lojas que precisa de
funcionários, e o que eu recebia? Apenas risadas, ninguém pra estender a mão,
ninguém sabia que eu precisava de verdade ajudar minha família a sair dessa
situação difícil.
Então sentei na calçada da minha casa e comecei a chorar, por que eu me
sentia um inútil, não podia fazer nada por ser ainda muito pequeno. Minha mãe
chegou perto de mim e perguntou o motivo das minhas lágrimas, e eu tentei
disfarçar, mas minha mãe me conhecia muito bem. Ela me disse uma frase que eu
jamais me esquecerei: O Senhor o deu, e o Senhor
o tomou: bendito seja o nome do Senhor. (Jó 1:21b)
Depois disso, minha mãe foi para casa, e eu continuei
na calçada. Muito triste e preocupado, quase sem esperanças. Fiquei pensando na
frase que minha mãe falou, e lembrando-me da fidelidade de Deus para com a
nossa vida. Que Ele nunca nos desamparou, que estávamos passando por uma
situação difícil, mas essa não foi a primeira vez e que já tínhamos passado por
cima de tudo.
Então, como se fosse do nada,se aproximou um senhor e
começou a conversar comigo. Não disse nome, nem de onde veio, disse que queria
apenas me ouvir. Contei toda minha situação pra ele – o que era estranho, pois
eu era muito fechado- então ele me disse que isso iria passar. Que na Bíblia há
muitos casos de pessoas que enfrentaram situações piores que a minha e que
tiveram vitória da parte de Deus. Ele me chamou pra dar uma volta pelo bairro,
eu mesmo sem conhecê-lo achei que fosse uma boa pessoa e fui passear com ele.
Enquanto andávamos, nós conversávamos a respeito da grandeza de Deus, de como
Ele nos ama, e que a batalha que eu e minha família estávamos enfrentando tinha
um propósito.
Chegamos a um determinado local, parecia uma pequena
mercearia. Ele me disse que era dele, só que ele não tinha tempo de
administrá-la. Perguntou se me interessava cuidar do negócio para ele, mas me
disse que apenas um turno, pois eu tinha que estudar. Disse-me que pagava muito
bem, e que estava disposto a me ensinar. Deu-me também um carrinho de
supermercado muito cheio de comida, de carnes, de tudo, coisas que eu nunca
tive na minha casa, o homem disse que todo mês daria as compras da minha casa e
que faria de tudo para nos ajudar. E eu perguntei: Por quê? Ele me respondeu apenas:
Deus que mandou!
Às vezes Deus nos manda anjos disfarçados de pessoas
para nos ajudar, para nos dizer: Filho, Eu estou aqui, nunca te abandonarei!
(NaraGisely)
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